segunda-feira, 16 de abril de 2012

O lobo e o cordeiro - fábula de La Fontaine

Adoro La Fontaine

O Lobo e o Cordeiro



A razão do mais forte é a que vence no final 
(nem sempre o Bem derrota o Mal). 
Um cordeiro a sede matava 
nas águas limpas de um regato. 
Eis que se avista um lobo que por lá passava 
em forçado jejum, aventureiro inato, 
e lhe diz irritado: - "Que ousadia 
a tua, de turvar, em pleno dia, 
a água que bebo! Hei de castigar-te!" 
- "Majestade, permiti-me um aparte" - 
diz o cordeiro. - "Vede 
que estou matando a sede 
água a jusante, 
bem uns vinte passos adiante 
de onde vos encontrais. Assim, por conseguinte, 
para mim seria impossível 
cometer tão grosseiro acinte." 
- "Mas turvas, e ainda mais horrível 
foi que falaste mal de mim no ano passado. 
- "Mas como poderia" - pergunta assustado 
o cordeiro -, "se eu não era nascido?" 
- "Ah, não? Então deve ter sido 
teu irmão." - "Peço-vos perdão 
mais uma vez, mas deve ser engano, 
pois eu não tenho mano." 
- "Então, algum parente: teus tios, teus pais. . . 
Cordeiros, cães, pastores, vós não me poupais; 
por isso, hei de vingar-me" - e o leva até o recesso 
da mata, onde o esquarteja e come sem processo.

La Fontaine

Nenhum comentário:

Postar um comentário